quinta-feira, 12 de março de 2009

João Carlos Martins

Ontem a noite eu fui dormir pensativo sobre a minha vida. Fui com o coração pesado, com um sentimento esquisito de impotência diante dos acontecimentos, de fragilidade diante das pessoas. Fiquei questionando se eu não deveria sempre pensar o pior das pessoas, pré-julgar os outros, partir do princípio de que todo mundo mente. Enfim, se eu não deveria olhar para as pessoas e ver o mal, sempre. Eu não sou assim, não consigo ser assim. Foi difícil admitir pra mim mesmo que eu sou ingênuo para as relações sócio-afetivas. Mas, como disse Leoni, "a verdade sempre vem bater a porta, a gente tenha ou não vontade". As vezes eu acho que a minha vida sempre foi muito boa, muito fácil, mas depois eu vejo que as vezes eu é que a conduzi de maneira superficial, achando que os problemas poderiam vir e ir sem que tivesse que enfrentá-los. Era só ignorar e esperar passar. De fato, ainda acho que pode ser assim, mas descobri que desse jeito a gente acaba perdendo muito tempo e, na vida, cada minuto é precioso, e tempo não se perde. Assim, penso que a solução agora é aproveitar ao máximo o tempo, e, para isso, espero passar a encarar meus problemas pessoais de frente e sempre que eles ocorrerem. Chega da postura blasé. Hoje, pela manhã, vi que o João Carlos Martins estava na Ana Maria Braga falando justamente sobre a volatilidade, a efemeridade da vida. Ele que aos 26 anos era considerado o maior intérprete de Bach ao piano, cortou o braço com uma pedrinha enquanto estava jogando bola com os amigos e, com os nervos rompidos, perdeu os movimentos da mão direita. Para não se ver privado de sua paixão pelo piano, João Carlos se submeteu a longos tratamentos e conseguiu recuperar parte dos movimentos da mão. Entretanto, os esforços do pianista em seguir em frente acabaram por lhe punir com uma LER, uma vez que os dedos bons ficavam sobrecarregados. Desiludido, João Carlos vendeu todos os seus pianos e quis se afastar da músicas. Esquecer sua paixão. Mas Deus havia lhe dado um dom, e esse dom, de emocionar as pessoas, alegrá-las, fazer o bem pela música não poderia ser simplesmente deixado de lado. Após alguns anos, João Carlos retomou a profissão, dessa vez utilizando somente a mão esquerda, obtendo sucesso mundial. Entretanto, a a vida voltou a golpear João Carlos. Enquanto realizava um concerto em na Bulgária, o músico foi atacado com um golpe na cabeça que lhe fez perder parte do movimento de mãos novamente, e, ao se esforçar para continuar tocando, sofria com intensas dores em suas mãos, principalmente na mão esquerda. Desiludido, pensou que nunca mais iria tocar piano. Mas persistente e apaixonado que era, João voltou a se submeter a tratamentos, treinamentos e, mais uma vez encontrou uma forma de tocar, utilizando os dedos que podia em cada mão. O tempo foi passando e João Carlos, com cada vez mais dificuldade de se apresentar ao piano, resolveu tornar-se maestro, mesmo sendo incapaz de segurar a batuta ou virar as páginas das partituras dos concertos. Nesse caso, o pianista, agora maestro, faz um trabalho minucioso de memorizar nota por nota e ensina música, gratuitamente, para jovens carentes em São Paulo. Esse mesmo João Carlos que contou hoje que, no final dos anos 60, desfrutando de grande sucesso mundial, após um recital no Carnigie Hall em Nova Iorque, ao receber os cumprimentos de Salvador Dalí que estava na plateia, ouviu também a recomendação do mestre pintor: "Diga a todos que você é o maior intérprete de Bach, algum dia vão acreditar. Faz muitos anos que digo ser o maior pintor do mundo e já há gente que acredita". João Carlos pode não ser o maior pianista do mundo, mas com certeza tem uma das mais belas histórias de superação dos problemas da vida, que sempre encarou com otimismo e esperança. Toda vez que eu o ouço tocar, eu choro. É certamente uma das mais emocionantes experiências. Veja:

7 comentários:

  1. o que dizer?
    juro que nao sei...
    ja nem sei se fiz a coisa certa...
    mas de uma coisa tenha certeza, te amo muito!!!!!!!
    to morrendo de saudades...
    beijos

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  2. Encarar tudo de frente é sempre a melhor saída... mas nem sempre estamos preparados para isso...

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  3. Algum desses pensadores disse que quanto mais superficial é a pessoa, mais feliz ela é. Ele não podia estar mais certo. Mas será que vale a pena levar uma vida desse jeito? Outra frase muito correta ótima pra colocar em MSN é: "A ignorância é uma benção". Mas o mundo não pode ser feito somente de ignorantes. Precisamos como pessoas como o Dr. Édio para olhar para nós necessitados. A história desse João Carlos Martins me lembrou muito a de Joseoh Klimber.

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  4. Quando eu tava escrevendo, lembrei do nosso Joseph Klimber, e também do Menino Carlos, que queria jogar futebol.

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  5. E "ignorância é uma benção" é um ditado anglo-saxônico: "ignorance is bliss". Tem uma música dos Ramones de mesmo título.

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  6. Não sei qual história é a mais tocante, de João Carlos ou a de Joseph Klimber "Qualquer um de nós ficaria chateado, desmotivado, abatido" Ele(Joseph Klimber) numca ficou chateado, desmotivado e nem abatido, mesmo perdendo a fala, os movimentos de todos os membros, praticamente um Vegetal.

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  7. Não sei qual história é a mais tocante, de João Carlos ou a de Joseph Klimber "Qualquer um de nós ficaria chateado, desmotivado, abatido" Ele(Joseph Klimber) numca ficou chateado, desmotivado e nem abatido, mesmo perdendo a fala, os movimentos de todos os membros, praticamente um Vegetal.

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