sábado, 9 de janeiro de 2010

Vale R$ 10,00.

Algumas pessoas andam me pedindo dicas de cds. Outras me perguntam como é que eu consigo comprar cds bons e baratos. Para quem não sabe, eu sou um ávido comprador de cds baratos. Para mim, o cd barato é aquele nacional de até R$ 9,90 e internacional de até R$ 14,90. Não posso ver uma banquinha de cds baratos que eu corro para garimpar. Uma das minhas principais fontes nos últimos anos foi as Lojas Americanas. Hoje eu resolvi fazer uma lista de dez cds nacionais imperdíveis que eu comprei nas Lojas Americanas por R$ 9,90 cada. Acho que vocês não deveriam deixar passar batido:
1 - Léo Jaime - Sessão da Tarde (1985)
Não é coletânea, mas a impressão ao ouvir o cd é a de que você está diante de uma. Só tem clássicos do Leo Jaime. São dez músicas, dentre elas "As sete vampiras", "A Fórmula do Amor", "A vida não presta", "Solange" (versão para So Lonely do The Police, que contou, nesta gravação, com os Paralamas do Sucesso como banda de apoio e Paula Toller no backing vocal), "Só". Grande parte dessas músicas decorreu do repertório do João Penca (grupo do qual leo Jaime foi fundador). Fazendo as contas, dá R$ 1,00 por música. R$ 1,00 para escutar Solange na maior altura, quantas vezes você quiser. Compra e se divirta. "Alguém sabe o que é ficar em casa só e chapadão, olhando pela madrugada o Poltergeist da televisão?". Atenção: este disco vicia.
2 - Kid Abelha e Os Abóboras Selvagens - Educação Sentimental (1985)
Um grande disco de rock nacional dos anos 80 que não ficou datado. Se vocês escutarem hoje, vão achar atual. É a obra prima de Leoni, que imagino tenha se inspirado no romance homônimo de Gustave Flaubert (também autor de Madame Bovary). O álbum traz canções atemporais. Todas construídas com simplicidade e conteúdo. São, ao mesmo tempo, força bruta e delicadeza. Nenhuma daquelas do Kid Abelha que vocês não aguentam mais. Todas soam frescas como se o disco fosse lançado hoje. E todas se conectam de alguma forma na urgência de Leoni em aprender a viver seus sentimentos. Assim como no romance de Flaubert, em que o autor francês narra uma relação platônica entre um jovem e uma mulher mais idosa. Uma aula de relacionamento por R$ 9,90, fora a poesia. Aqui segue apenas uma prévia: "Talvez eu tenha ganho mais que tenha dado, mas contas de amor sempre dão errado." Atenção: Kid Abelha com Leoni é outra banda. Sem Leoni, eu nem escuto.
3 - Os Paralamas Do Sucesso - Os Grãos (1991)
"Os Grãos" foi o maior fracasso comercial dos Paralamas do Sucesso, tendo vendido cerca de 100.000 cópias desde o seu lançamento em 1991. No entanto, na minha opinião, é o melhor disco da banda. Não tem nenhum hit, talvez culpa da péssima recepção do álbum pela crítica da época. Mas o disco traz o melhor instrumental da banda, com arranjos ousados e criativos, que introduzem elementos eletrônicos e samplers e exploram tendências de vanguarda do rock à época, além de outras sonoridades do reggae. Além disso é, sem dúvida, o melhor trabalho de Herbet Vianna como letrista. Poderia, muito bem, ser um livro de poemas. Herbert construiu imagens lindas como: "Gotas de amor sobre as feridas / Como um bálsamo ..."; "Sob o céu frio e cinza / Um impasse e poucas opções / Não há rosas no jardim / E há tempos não se ouvem os rouxinóis." ; "Não adianta / Vizinhos, polícia / Não vai voltar / O tempo, os dias / Em que tudo ainda estava no lugar / Abra os braços, abrace o que sobrar". Nâo percam ainda, a versão em português para Trac Trac (do argentino Fito Paez) e a mais bela canção dos Paralamas: Tendo a Lua. um reggae bluseiro em que Herbert encaixou uma das mais lindas constatações que eu já ouvi: "Tendo a lua aquela gravidade aonde o homem flutua / Merecia a visita não de militares, mas de bailarinos e de você e eu." As vezes eu estou dirigindo, ou no avião, e simplesmente paro para pensar nesta frase.
4 - Os Paralamas do Sucesso - O Passo do Lui (1984)
Aproveitando o gancho dos Paralamas, este sim, no estilo coletânea. "Óculos", "Meu Erro", "Romance Ideal", "Fui Eu", "Ska", "Me Liga". Clima de festa do início ao fim. Disco "obrigatório" em qualquer discoteca de rock nacional. Todo mundo teve este disco em 1984. É o melhor disco de ska já feito no Brasil.
5 - Ultraje a Rigor - Nós Vamos Invadir Sua Praia (1985)
Talvez o disco mais tocado do Brasil em 1985. Trata-se do disco de estréia do Ultraje a Rigor, que do ponto de vista de hits, acho que a banda reuniu todos os hits em potencial logo no primeiro disco e foi daqui para pior. (eu gosto do Ultraje, mesmo nos últimos trabalhos, mas reconheço que está longe do que representou este disco). Mais um que parece coletânea (e não é, acreditem): "Nós Vamos Invadir Sua Praia"; "Rebelde Sem Causa"; "Mim Quer Tocar"; "Zoraide"; "Ciúme"; "Inútil"; "Marylou"; "Eu Me Amo"; "Independente Futebol Clube"
Nota: Este eu não comprei, pois já tinha uma coletânea do Ultraje com todas as músicas desse cd. Mas se não fosse isso, teria comprado.
6 - Engenheiros da Hawaii - A Revolta dos Dândis (1987)
Ok. Eu admito que em termos musicais, as gravações dos anos 80 dos Engenheiros ficam muito aquem daquelas feitas pelas bandas do Rio e de São Paulo. Por isso eu sempre preferi as gravações mais recentes dos Engenheiros (os milhares de "ao vivos" e "acústicos" que fizeram nos últimos anos, mudando apenas as letras de algumas músicas). Mas não há como negar que um disco em que estão reunidas "Terra de Gigantes", "Refrão de Bolero", "Infinita Highway" e "Filmes de Guerra, Canções de Amor" merece lugar em qualquer discoteca de rock nacional.
7 - Lulu Santos - O Último Romântico (1987)
Agora sim estamos falando de uma coletânea. Mas infelizmente é o melhor disco disponível no mercado (em cd) que contém as gravações mais clássicas do Lulu Santos. Eu considero o Lulu um dos músicos mais influentes do rock nacional, sendo, sem dúvida, um dos maiores criadores de melodia. Guardadas as devidas proporções, é o nosso Paul McCartney. (Nossa, ficou ruim isso pro Paul né, sendo comparado ao Lulu Santos...). Enfim, além de todas aquelas que provavelmente a sua mãe decorou (De Repente Califórnia, Um Certo Alguém, Tão Bem, etc...) a que eu mais gosto e escuto é a última faixa: "Tudo Com Você". "Eu quero tudo com você...". O riff de guitarra é sensacional!
8 - Tim Maia - Disco Club (1978)
O único artista brasileiro capaz de competir, em termos técnicos, com os artistas de R&B e disco americanos fez este disco maravilhoso em 1978. Como o próprio Tim gostava de ressaltar, com o repertório ideal: "metade esquenta-sovaco, metade mela-cueca". Entretando, o que eu gosto mesmo é da metade "esquenta-sovaco" deste disco, que começa com "A Fim de Voltar" (... mas eu tenho um certo receio ...) e segue com "(Pneu Furou) Acenda o Farol" e "Sossego". Nenhum disco brasileiro até hoje, na minha opinião, chegou tão próximo a Barry White, Stevie Wonder e Cia. Arranjos de metais e cordas. Deve ser show no vinil, mas não percam enquanto o cd está por aí a R$ 9,90.
9 - Titãs - Cabeça Dinossauro (1986)
Por R$ 9,90 você estará levando o disco mais conceitual já produzido por uma banda nacional. É basicamente um disco de punk rock, mas, como se trata de Titãs, tem também o reggae, clássico da banda, "Família", e funks, como "Bichos Escrotos", que teve a execução proibida na época do lançamento do disco. As letras criticam de modo direta a atuação do Estado e os pilares da sociedade brasileira. Em 1997, a revista Bizz elegeu Cabeça Dinossauro como sendo o melhor álbum de pop rock nacional. Não dá para não ter em casa. (Dica: álbum de estudos. É tão essencial quanto ter um dicionário em casa. Você pode não gostar, mas tem que conhecer.)
10 - Legião Urbana - Legião Urbana (1985)
É o primeiro disco da Legião. Não tem Pais e Filhos. Não tem Faroeste Caboclo. Não tem Eduardo e Mônica. Mas é a mesma sensação de ouvir The Smiths entendendo a letra. E o que eu particularmente gosto neste disco são os arranjos de guitarra. Linhas melódicas muito simples, mas originais e que marcam todas as músicas. Além disso, é um disco menos afetado e mais agitado. Daqueles bons de dançar no final da noite na Obra, com a pista vazia e duas ou três pessoas se esguelando para gritar mais alto que os alto-falantes: "...tire suas mãos de mim, eu não pertenço a você...".
Curiosidade: 8 dos 10 álbuns aqui citados foram lançados originalmente entre 1984 e 1987, sendo que destes, 5 foram produzidos por Liminha.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Curtinhas de Verão

  1. No final do ano, quando fui na Livraria Cultura trocar um cd da Mallu Magalhães que eu tinha comprado de presente de Natal para a Laura, vi, na sessão "Pop Rock Nacional" um cd do.... "Supermodel". O engenheiro de som, cujo nome constava da capa, foi o glorioso Alexandre Rodarte (ô lôco meu!). O responsável pelas melhores gravações do Silent Bob and The Jay Jay´s. E curiosamente o Supermodel ensaiava logo antes da gente no estúdio. Agora, fiquei tentando me lembrar qual era a "música de trabalho" do Supermodel, alguém se lembra?
  2. Na segunda-feira, no voo de volta para Brasília, sentei ao lado de uma modelo, dessas altas e magrelas, que estava compenetrada lendo sua "Vanity Fair" ou "Elle". Assim que todos estão embarcados e os comissários passam checando o cinto de segurança, ela me pede licença para levantar. Corre até o banheiro. Desiste de entrar. Volta para o lugar e pede para que eu pegue a bolsa dela que está debaixo do banco - "Rápido senão vou vomitar. Estou quase." Entrego a bolsa e ela some. O passageiro ao lado me cutuca e pergunta: "Uai, ela desistiu?". Eu respondo: "Acho que não, disse apenas que ia vomitar." Cinco minutos depois, o comandante: "Muito bom dia, Comandante Rolemberg falando. Estamos prontos para iniciarmos a nossa decolagem e deveremos fazê-lo dentro de mais alguns minutos. Estamos apenas aguardando a nossa equipe de solo localizar a bagagem de um passageiro que estava embarcado e desistiu de seguir viagem. Não há previsão exata, uma vez que as bagagens serão checadas uma a uma no porão. Por normas de aviação a aeronave não pode seguir voo com bagagem de passageiros desembarcados. Obrigado." Mais trinta segundos se passam. "Senhores passageiros, o Comandante. Estamos com sorte. Acabamos de localizar a bagagem e neste momento, iniciaremos nossa viagem." Sigo feliz, agora mais folgado na minha poltrona e, de quebra, ainda lendo a revista "Elle" deixada pela nossa atriz.
  3. O que me lembrou que no voo entre Brasília e Belo Horizonte, no dia 23 de dezembro, sentei ao lado de uma senhora de uns 70 anos. Quando cheguei no meu lugar, ela já estava sentada, fazendo palavras cruzadas. Dei boa tarde, pus o headfone e fechei os olhos. Não passaram cinco minutos e a senhora me cutuca. Abro os olhos e, quando viro de lado, vejo ela com a sacolinha de vômito cheia na mão e um sorisinho maroto: "Meu filho, será que você poderia me ajudar a chamar a aeromoça?" Como o avião estava já correndo na pista, apenas apertei o botão que chama a aeromoça e ofereci a ela a minha sacolinha também. Assim que o avião decolou, a senhora se levantou para ir ao banheiro. Eu, que estava no corredor, mudei para a fileira ao lado e fiquei até o final.
  4. Nesses dias em Cabo Frio percebi que todo gordinho que passa ao seu lado dá aquela olhada para comparar se você está mais gordo ou mais magro que ele. E sempre dá um sorrisinho quando você está mais gordo.
  5. P: Quando é que você reconhece que está em praia de mineiro? R: Quando vem uma onda maior e você escuta: "nóssinhora".

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Adeus Ano Velho (Feliz Ano Novo)

Penúltimo dia de 2009. Eu estou em Brasília e me preparo para ir passar o Reveillon com a Roberta e a família dela em Cabo Frio. Acordo mais tarde, é uma quarta-feira. Meu voo parte às 14:10 rumo a Confins. O Caminho é simples: Brasília - BH - Rio - Cabo Frio. O Gustavo ficou falando que não conhecia ninguém que tivesse ido para Cabo Frio de avião. Nem eu. Naquela manhã, decido não colocar o terno. Penso: São só duas horas no ministério e vou para o aeroporto. Venho para o ministério. Nada demais. Saio mais cedo, tentando me antecipar às filas do check in. Tudo certo em Brasília. Pequeno atraso na saída do voo, mas eu estou tranquilo. Minha conexão em BH é folgada. Não almocei em Brasília. Planejei um almoço no Spoletto de Confins. Pego o avião para BH. Chego com tranquilidade e faço logo o chek in para o voo para o Rio de Janeiro. Livre da mala, vou almoçar. Tudo perfeito, como planejado. Para melhorar, encontro com o Tio Decinho na sala de embarque. Colocamos o papo em dia. O tempo passou rápido e o voo para o Rio saiu na hora. Previsão de chegada no Rio: 19:20. Tempo suficiente para pegar o voo para Cabo Frio às 21:40. O voo para o Rio transcorre sem problemas até o final. Na chegada à cidade, está chovendo muito e o comandante resolve arremeter. Ficamos dando voltas no céu. O aeroporto de Santos Dumond fecha. O comandante avisa que aguardaremos em posição de descida a abertura do aeroporto por vinte minutos e, caso não abra, desceremos no Galeão. Puta que pariu! Penso na minha conexão. Tento manter a calma e focar na descida em Santos Dumond. O tempo passa, a chuva aumenta e descemos no Galeão. O comandante informa a todos que a TAM está providenciando com o pessoal de terra o transporte dos passageiros para o aeroporto de Santos Dumond, seja por ônibus ou através de uma decolagem e pouso. Torço para a última opção, mas ela não dura mais que cinco minutos. Somos desembarcados. Pego a minha mala e, antes de qualquer outra coisa, ligo para a TRIP, para verificar a situação do meu voo para Cabo Frio. São cerca de 20:15. O atendende diz que o avião já está na pista e que se eu não chegasse em Santos Dumond até as 21:10, não poderia embarcar. Corro para tomar um táxi para Santos Dumond. Não há táxis disponíveis no Galeão. Vou para a fila do ônibus "frescão". Todos passam lotados. O tempo passa. Perdi meu voo para Cabo Frio. Decido ir para a rodoviária. Tento ligar para a Viação 1001 para saber qual é o próximo ônibus para Cabo Frio. A bateria do meu telefone vai apitando. Está acabando. As linhas da viação não atendem. Estão sobrecarregadas. Resolvo economizar o dinheiro do táxi (R$ 80,00) e ir de ônibus (R$ 4,00 - cortesia da TAM). Nas próximas três horas, sou o primeiro da fila para pegar o ônibus. Todos passam lotados. Estou com fome, com sede e apertado para ir ao banheiro. Desisto da fila. Pensei: se passar agora ou daqui a uma hora, não faz mais diferença. Fui ao banheiro e depois cheguei ao Bob´s, que estava fechando. Ainda deixaram eu fazer o meu pedido. Que sorte! Saí na hora certa. Comi o meu sanduíche, saboreando cada pedaço. Quando estava terminando a última mordida, ouço no sistema de som do Galeão: "Voo Trip com destino a Cabo Frio. Embarque imediato. Portão 4." Pensei: É O MEU VOO! É O MEU VOO! Saio correndo sem saber para onde ir. Ligo para a TRIP (que não tem balcão no Galeão, só em Santos Dumond). O atendente me diz: Sr. Édio, corre para o check in n°50. Estou no Terminal 2. O check in n° 50 fica no Terminal 1. Meu celular está avisando que a bateria vai acabar, mas resolvo não desligar o telefone. Vou falando com o atendente da TRIP. São 00:15 e estou correndo igual a um louco no Galeão para chegar ao Terminal 1. Ultrapasso três esteiras rolantes correndo. "Run Forrest", pensava. Chego ao Terminal 1. Nem precisei ir até o check in 50. Logo na altura do check in 11 encontrei um atendente da TRIP. "Estou salvo. Graças a Deus!" Exclamei. Segurei o atendente pelo braço. Sem fôlego, não conseguia explicar a minha situação. Tudo o que consegui fazer foi passar o meu celular para ele e dizer: "Fala aqui com a Trip. Eu estou neste voo para Cabo Frio.". Ele não entendeu nada, pegou o meu telefone e começou a conversar. Parece que conhecia o interlocutor. A conversa foi tomando um rumo inesperado. Parece que eu não poderia embarcar. Não consegui argumentar, ele me devolveu o celular e saiu andando. Corri atrás do atendente, que passou pelo portão da sala de embarque dizendo: "Eu não posso atrasar mais duas horas este voo por causa de um passageiro." Foi triste. Fiquei ali, em pé. Terminal 1. Sem esperanças. Resolvo voltar para a idéia original. Ônibus, rodoviária, Cabo Frio. Descubro que o último ônibus passou as 23:30. O próximo será as 05:30. Decido tomar um táxi. Não consigo. A GOL resolveu mandar todos os passageiros dos seus voos desviados para o Galeão de táxi para o Santos Dumond. Tento entrar em um táxi fingindo que a TAM havia dado um voucher. Não consigo. O rapaz que organiza a fila do táxi me dá esperanças. Diz que vai arrumar um carro para me levar. Combina o preço comigo. R$ 60,00. Eu choro um desconto. Pago R$ 50,00 e me vejo entrando em um carro particular. Um Pálio branco. Penso em não entrar, mas o cansaço não me dá escolhas. Entro no carro. O motorista diz que é taxista mas que a noite quem roda no táxi é o cunhado dele. Mas que por causa da chuva e da confusão, ele resolveu ganhar um dinheirinho extra naquela noite. Me pergunta para onde eu estou indo. Digo "Cabo Frio". Aí ele me pergunta se eu não topava que ele me levasse lá por R$ 200,00, desde que a gente pudesse passar na casa dele e pegar a esposa e os dois filhos. Argumentou que além dos R$ 50,00 da corrida, eu ia gastar mais R$ 60,00 com o ônibus, além de ter que ficar muito tempo na rodoviária. É óbvio que eu não topei e em dez minutos chego na rodoviária do Rio. Penso que no taximetro, aquela corrida não valeria mais de R$ 15,00. Tudo bem, eu teria pago R$ 80,00 antes. Corro para comprar uma passagem para Cabo Frio. Más notícias, o próximo ônibus com lugar sairia apenas no outro dias, as 09:40. Começo a perguntar pelos ônibus de Arraial do Cabo, São Pedro da Aldeia e cidades próximas e consigo uma passagem para São Pedro às 07:14. Pago R$ 23,00 pela passagem. Seriam sete horas de espera na rodoviária do Rio. Encarei. Li, escutei música, comi, dormi, li, andei, escutei música. O tempo não passava. Sentado na praça de alimentação, estávamos eu e um monte de jovens surdo-mudos conversando sem parar durante toda a madrugada. Fiquei escutando meu Ipod e vendo aqueles braços irem de um lado para o outro, como um balé ao som de rock. Quando eram 06:30, resolvi descer para a plataforma. Lotada. Um inferno. Ônibus saindo de 5 em 5 minutos para todas as cidades do Rio. Todos atrasados. Meu ônibus só chegou as 07:40 da manhã. Pensei: vou ser o primeiro a entrar, vou sentar no meu lugar e finalmente dormir um pouco. Acabou que fui o último. Era o único que tinha mala para por no bagageiro, e o motorista se recusava abri-lo. Fiquei esperando o cobrador para guardar a minha mala. Quando entrei no ônibus, fui recebido por um bêbado, que gritou: "eu quero sentar longe do gordinho". Risos no ônibus. Eu, cansado, passei reto para o meu lugar, mas o motorista, irritado com as gracinhas do bêbado, chamou o segurança da rodoviária e disse que não sairia enquanto o bêbado não parasse de falar. Lá fomos nós esperar o segurança intimidar o bêbado que, na verdade, só parou quando um moleque mal encarado e com o cabelo descolorido à moda Belo sentou do lado dele e mandou ele calar a boca. A viagem até São Pedro durou quatro horas, que passaram rápido demais para mim e, quando eu me vi, estava sentado na rodoviária de São Pedro da Aldeia, de frente para o mar, ao meio-dia do dia 31 de dezembro, vendo o dia ensolarado escurecer e os primeiros trovões chegarem ao litoral. Após 24 horas de viagem, chegamos à praia. Eu e a chuva.