“Oh, oooh, oooh, oh, Joca in rio!” Lembro-me bem como se fosse semana passada o aniversário do Joca que aconteceu um pouco depois do “Rock In Rio III”.
João Carlos, mais conhecido como Joca, também conhecido como Joconha, Jocaralho, dentre outros apelidos era o “roadie” do “Silent Bob And The Jay Jay´s”. Digo isso entre aspas porque, primeiro a gente não precisava de “roadie”, segundo a gente não sabia exatamente tudo o que um “roadie” fazia, e terceiro, das coisas que a gente sabia que um “roadie” fazia, ele João “Joca” Carlos não fazia, ou não sabia fazer. O Joca estava mais para um “groupie” do que um “roadie”. Ele estava sempre conosco, e de vez em quando ajudava, carregando alguma coisa, mas “roadie” mesmo ele não era. Todo mundo era novo, e o Joca era mais novo ainda, ele deveria ter uns quinze anos, e o sonho dele era ter uma banda, mas tenho certeza de que o sonho dele era tocar na nossa banda.
Em 2001 fomos, eu, o Diogo, o Édio, e o Yan para o “Rock In Rio III”. Ficamos no apartamento da mãe do Yan na Avenida Atlântica, de frente para a praia de Copacabana, a vista da janela era típica de um cartão postal do Rio de Janeiro. No último dia do festival cerca de 250 mil pessoas puderam acompanhar os shows do Red Hot Chili Peppers, Silverchair, e Deftones, além de outras bandas nacionais. Era o nosso segundo dia de festival, tínhamos ido exatamente no dia anterior, então estávamos já um pouco cansados, mas também estávamos mais prevenidos com relação ao que fazer e o que não fazer lá dentro da “Cidade do Rock”. Havíamos fincado nossa bandeira e armado nossa barraca num ponto até meio distante do palco, quando eu digo bandeira eu quero dizer na verdade bundas, e onde se lê barraca entende-se cangas. Armamos um pequeno acampamento, tínhamos um grupo consideravelmente grande conosco, estávamos todos lá no acampamento esperando encontrar o Diogo(assunto para um outro post). Pois bem, estávamos lá olhando para o nada, esperando o primeiro show do palco principal, quando eu avisto um ser de cabelo meio engomado, meio espetado, com aquela cara de ovo de óculos, camisa preta e bermuda, era o Joca, mas espera aí um pouco, o Joca não estava conosco. O Joca nem ao menos estava no Rio até onde eu saiba.
- O Joca, o que cê tá fazendo aqui?
- Eu saí lá de Cabo Frio e vim pra cá.
- E seus pais deixaram você sair assim?
- Ah, meus tios é que estavam lá comigo.
- Eles deixaram?
- Ah, Eles não sabem que eu vim não.
Depois de muita risada, e de passar muito sabão no Joca, e depois de ter encontrado o Diogo(continuo insistindo, peço, por favor, não adiantem esse assunto em nenhum comentário, o post com relação a esse assunto será escrito) começa um dos shows que eu mais esperava, era o show de uma banda de Belo Horizonte, o Diesel. O Diesel havia vencido um concurso entre bandas de todo país chamado "Escalada do Rock", que dava o direito para a banda vencedora de poder tocar no palco principal e abrir o último dia do evento. Eu já tinha visto vários shows do Diesel, não gostava tanto do estilo da banda, que eu achava um pouco ultrapassado, mas o som deles ao vivo era igual ao som do CD deles, muito bom, era quase perfeito. Eu queria tirar minha dúvida se o show deles em um palco gigante e para um público gigante ia ser o mesmo ou pelo menos parecido com os shows deles em palcos e locais minúsculos. O fato é que não deu nem tempo para eu tirar minhas conclusões, o show fora interrompido pela produção do evento antes que eu pudesse analisar qualquer coisa. E foi uma coisa muito estranha porque foi no meio de uma música. Achei que algo de grave havia acontecido, mas não, depois descobri que a produção retirou o Diesel do palco porque eles, da produção, estavam atrasados com relação à programação do evento. Isso me deixou um pouco decepcionado, pois queria ouvir ao resto do show do Diesel e conferir a reação do público ao show deles.
Depois de alguns shows fomos para as barraquinhas eu, o Édio e o Joca nos alimentar. O Joca havia levado em uma sacolinha uma máquina de tirar retratos totalmente manual, bem old school, que havia comprado para registrar sua aventura na cidade maravilhosa, além disso sua sacolinha também havia carregado mais cedo, sanduíches de presunto para o seu almoço, mas já estava escuro e a barriga do Joca já dava sinais claros de que ele iria precisar de muito mais que alguns sanduíches de presunto para continuar a sua aventura. Tenho que confessar que nesse dia, o mais legal foi ver, ou melhor, não ver o macarrão de 10 reais que o Joca comprou. O macarrão custava na verdade 5 reais, mas antes de dar a primeira garfada em seu macarrão, Joca numa manobra espetacular conseguiu no intervalo em que piscava os meus olhos, derrubar todo seu macarrão naquele chão sujo e voltar para a posição original o seu marmitex, que ficara completamente vazio, foi como se ele girasse o marmitex bem rápido, mas não rápido bastante para manter o macarrão dentro. Então lá se foi o Joca para a fila comprar mais um marmitex de macarrão.
Voltando para BH, descubro que o Joca estava de castigo, e estava pagando o preço de sua aventura musical. Dias depois somos convidados para ir ao aniversário do Joca, o assunto não poderia ser outro, as recentes loucuras de Joca, o "roadie" fujão. Conversa vai, conversa vem, estava na hora de cantar parabéns. Cantamos o "parabéns", depois cantamos o já tradicional “big”, e ao invés do “com quem será”, veio lá do fundo o coro já no ritmo da música tema do festival carioca“Oh, oooh, oooh, oh, Joca in rio!”.